quarta-feira, julho 29, 2009

This is Not a Love Story

"Boy meets girl. Boy falls in love, girl doesn't". Este é o anúncio feito logo no começo de 500 Days of Summer. Mais um filme que vai entrar para minha lista de filmes honestos que não são depressivos, e para a lista dos meus favoritos, claro. Daqueles que vou comprar o DVD e assistir novamente quando bater um "não sei o que".

500 Days of Summer conta a história de Tom Hansen e os 500 dias que passou apaixonado por Summer Finn.

Logo de cara o narrador avisa: "this is not a love story". E não é mesmo. 500 Days of Summer é sobre o dia que Tom conheceu Summer, o dia que Summer beijou Tom, o dia que Tom transou com Summer, o dia que Summer 'sonhou' uma vida a dois com Tom, o dia que Tom se apaixonou por Summer, o dia que Summer se apaixonou por Tom, o dia que Tom levou Summer no seu lugar favorito, o dia que Summer abriu parte do seu mundo para o Tom, o dia que as coisas deram certo, o dia de um sorriso sincero, os dias de cinema, os dias de chateação, o dia que Tom ama tudo sobre Summer, o dia que Tom odeia tudo sobre Summer, o dia que foi o começo do fim, o dia que Summer deu o primeiro sinal de fumaça, o dia que Summer terminou com Tom, o dia que Summer foi embora, os dias que Tom sofreu por Summer, o dia que os dois se reencontraram pela primeira vez, o dia que Tom esperou uma coisa mas viveu outra, o dia que Summer e Tom tiveram uma conversa honesta, o dia da última lembrança, o dia que a esperança acabou, o dia número 500.

Tom aprende que nessa vida não existe destino e sim coincidências, e aí vai da gente fazer dessas coincidências o que bem entender. Summer aprende a acreditar menos no poder das suas próprias decisões e passa a acreditar na força do destino. No final os personagens mudam de papéis, Summer passa a ser mais Tom e Tom passa a ser mais Summer, infelizmente na hora errada, depois que ambos seguiram os seus caminhos em separado.

Lá no fundo eu torci pra que eles dessem certo no final do filme, e quando não deram eu chorei. Bobeira minha já que o aviso tinha sido feito lá atrás: "this is not a love story".

Tem muitas histórias assim no mundo. Pessoas certas, na hora errada. Pessoas erradas, na hora certa.

"Just because you both like to do the same weird stuff doesn't mean she is THE ONE" diz a irmã 'pequena polegar' de Tom. Será?

Não sei mais se existe uma pessoa perfeita para cada um de nós, mas ainda não consegui desistir da idéia da "the one" também. Acho que o mundo está cheio de pessoas interessantes, cada qual com o seu lado branco e negro. E cada uma vai trazer uma experiência diversa na sua vida. Mas eu também sei que algumas pessoas simplesmente "feels like home". E essas pessoas são poucas, se não forem, quem sabe, únicas.

Afinal não é todo dia que você encontra alguém que pensa as mesmas weird stuffs que você, que sente a mesma dor, que você não precisa explicar porque um filme, um livro, uma idéia ou uma cidade te encantam ou atormentam. Daquelas que te sentem, porque lá no fundo elas sabem o que é ser você, e você sabe o que é ser elas. Sem "pré-conceitos", um ser humano que entende e olha para um outro ser humano como um igual, sem divisão de sexo, cor ou credo.

Sem a expectativa de encontrar a perfeição e ainda assim a encontrando.

500 Days of Summer é sobre todos os dias da vida, dias de alegria, dias de tristeza, os dias que a gente divide e se envolve e os dias que a gente foge. Os dias que a gente sabe, os dias que a gente aprende, os dias que a gente se arrepende, e aqueles que mudamos de idéia. Os dias que alguém é especial, os dias que esse alguém é tormento. É sobre os dias de cada um de nós. Os dias que somos Summer e os dias que somos Tom.

Se bobear você que está lendo esse texto aí já teve os seus "500 dias de alguém". Eu sei que eu já tive os meus.

quinta-feira, julho 02, 2009

Fake Plastic Trees

Uma certa vez alguém que eu não me lembro me disse: "aproveita bastante os seus 15 anos garota, depois que você passa dos 18 os anos começam a passar mais rápido". Na época eu lembro que nem dei assim tanta atenção, e como me foi avisado os anos começaram a passar depressa, um mais rápido do que o outro.

E cá estou eu, mais pra 30 que pra 20, esperando aquela iluminação que me foi prometida quando você vai ficando mais velho. Eu ainda não tive nenhuma. Não me lembro se foi Nietzsche ou Shopenhauer que não via a velhice como um espelho da sabedoria, mas do arrependimento e da frustração. Eu to mais pra esse lado da moeda.

Schopenhauer dizia que somente os dias de tristeza nos fazem recordar as horas felizes do passado. E que a tristeza é o único sentimento real e palpável, só a dor é definitivamente verdadeira. Vou citar abaixo um trecho bem interessante de Schopenhauer que estava lendo essa semana:

A FELIC1DADE É UM SONHO

Sentimos a dôr, mas não a ausência da dôr; sentimos a inquietação mas não a ausência; o temor, mas não a tranquilidade. Sentimos o desejo e a aspiração, como sentimos a sêde e a fome; mas, apenas satisfeitos, se acabam, como o bocado que, uma vez engolido, já não existe para o nosso paladar.

Enquanto possuamos os três maiores bens da vida, saúde, mocidade e liberdade, não temos consciência dêles, e só com a perda dêles é que os apreciamos, porque são bens negativos.

Sómente os dias de tristeza é que nos fazem recordar as horas felizes da vida passada.

À medida que os prazeres aumentam, nossa sensibilidade diminui; o hábito já não é um prazer.

As horas passam lentamente quando estamos tristes; correm rapidamente quando são agradáveis; porque a dor é positiva e faz sentir sua presença.

O aborrecimento nos dá a noção do tempo e a distração nos faz esquecer. lsto prova que a nossa existência é mais feliz quando menos a sentimos: de onde se deduz que mais feliz seríamos se nos livrássemos dela.

Uma grande alegria, assim não a julgaríamos se ela não viesse atrás de uma grande dor. Não podemos atingir um estado de alegria serena e duradoura. Esta é a razão porque os poetas são obrigados a rodear seus protagonistas de tristes ou perigosas circunstâncias, para no fim os livrar delas. No drama e na poesia épica, o herói sofre mil torturas: nos romances os heróis lutam pondo em relêvo os tormentos do coração humano.

'A felicidade não passa de um sonho - dizia Voltaire, tão favorecido pelo destino? - a única realidade é a dôr'.

Há oitenta anos que a experimento e nada faço senão resignar-me e dizer a mim mesmo que as môscas nasceram para serem comidas pelas aranhas, e os homens para serem devorados pelos desgostos".


Ando pulando de livro em livro últimamente, tentando achar uma resposta para a felicidade e para a dor. Tentando encontrar uma solução para fugir das fórmulas pré estabelecidas que esta vida nos impõe no momento em que nascemos, e só nos libertamos quando a morte vem. E mesmo da morte o ser humano achou um jeito de criar fórmulas: se você for bonzinho vai pro céu, se for malvado vai pro inferno.

Por que essa mania da sociedade em querer colocar marca em tudo? Ou você é bom ou mal. Ou é gente boa ou não tem amigos. O que você faz da vida te define como pessoa. Você nasce e tem que ir pra escola estudar. Aí cresce e tem que casar e ter filhos. Depois você vive a vida inteira tentando fazer dinheiro para sustentar todos os gastos que você tem no mês para comprar coisas que você no fundo não precisa. Então você acaba entrando dentro do círculo vicioso de ter coisas materiais para poder ser definido por elas. Porque? Pra que viver a vida preso a coisas que você na verdade não precisa? Que se não fossem por elas você estaria livre para ser quem você realmente quer ser. Por que temos que seguir o "caminho natural das coisas". Por que você precisa casar antes dos 30, ter filhos antes dos 35, comprar uma casa e pagar juros pro banco antes dos 40, e passar o resto dos seus dias escravo do seu trabalho, da sua rotina, da sua conta poupança.

E no meio disso tudo você tem que ter uma carreira. Tem que ser importante, virar alguém nessa vida. Tem que ter um título bonito, tem que ser responsável, tem que saber o que quer da vida aos 18 anos quando escolhe uma faculdade pra fazer.

E nadar contra essa corrente é tão complicado. Os caras que combinaram esse esquema mirabolante são genais! Conseguiram escravizar um mundo inteiro. Como um guerreiro solitário vence uma guerra contra um exército infinito? Eu sei que não estou sozinha nos meus pensamentos, me junto a muitos outros que pensam o mesmo. Mas claro, não gostamos de nos unir a nada, por isso seguimos nossas angústias em separado.

E como que a gente faz para seguir uma vida de acordo com as nossas crenças sem ficar solitário para sempre? Ou será que o caminho é mesmo seguir o nosso destino em silêncio, parar de gastar energia nadando contra a maré, aceitar o papel que lhe cabe nesta vida e ler as linhas do roteiro que te deram ao nascer?

Não quero acreditar que a vida é assim mesmo, feita de mentira, como uma plantinha de plástico que nunca morre, nunca cresce, nunca cheira, nunca nada...

Como viver num mundo insano fingindo que se é são?