quarta-feira, outubro 28, 2009

A cada mil lágrimas sai um milagre...

Eu cresci testemunhando o poder que o cinema tem na vida das pessoas.

Eu vi o cinema mudar o destino de muitos, acalmar um coração, inquietar outro, criar uma revolução, salvar uma vida. Isso mesmo, eu testemunhei o cinema salvando uma vida. No momento em que as luzes se apagam e a lanterna mágica se acende, e todas aquelas histórias de vida param no tempo juntas para viverem uma outra vida, e por 2 horas verem o mundo através dos olhos de um outro alguém.

Mesmo que elas não saibam ou sintam esse poder, ele existe. O poder de ser o outro sem que ninguém tenha que te pedir para ser o outro, ou sem qualquer resistência da sua parte. Você não deixa de ser você mesmo mas sente na pele uma situação totalmente diferente da sua experiência de vida. O cinema tem esse poder unificador.

Tantos com tantas experiências diferentes ao redor da mesma história, sentindo a mesma coisa. Acredito que essa é uma das razões que me faz amar o cinema acima de todas as outras artes. Por que o cinema é entre todas a mais eclética, a mais unificadora.

Talvez ele dispute acirradamente com a música o primeiro lugar (e como o cinema depende dela). Mas ainda assim, cada qual pode interpretar uma determinada canção de uma maneira, de acordo com o que estava vivendo naquele momento da sua vida e que não é necessariamente o sentimento que o artista estava querendo passar. O cinema não. Você é "forçado" a realmente ver e sentir o mundo do jeito que o artista quer. Só por aquelas 2 horas. Você pode gostar ou não do que viu e aí sim a coisa é com você.

Dentre todas o cinema é a arte mais cheia de empatia. E a empatia é uma palavra que sozinha poderia mudar o mundo, se estivéssemos preparados para ela. Mas não estamos. Por isso seguimos a nossa vida sem saber como é ser o outro. Por isso tantos seguem a vida machucando e não curando.

E o cinema tenta entender isso. Ele nunca dá respostas, mas ele te leva para muitos lugares escondidos e talvez nesses lugares a gente encontre um pouco de luz.

Alguns filmes te levam para uma vida que você não viveu. Outros te levam para uma história do seu passado ou para a sua infância. Alguns te transportam para um mundo tão diferente do seu que nem parece real. Alguns salvam a sua vida.

E existem aqueles outros que de uma forma inexplicável te levam pra casa.

Eu queria poder encontrar um desses hoje. Assim quem sabe eu poderia ir pra casa, nem que fosse por apenas 2 horas.

Filme do dia_"Once" by John Carney
Música do dia_"Lies" e "Once" by Glen Hansard e Marketa Irglova

Frase do dia_ A Quote from the movie "Once":
- Girl: How come you don't play during daytime? I see you here everyday. - Guy: During the daytime people would want to hear songs that they know, just songs that they recognize. I play these song at night or I wouldn't make any money. People wouldn't listen.
- Girl: I listen.

sexta-feira, outubro 23, 2009

No Direction Home

A gente sempre precisa de um tempo para entender certas coisas na vida, e muitas talvez a gente nunca entenda. Especialmente quando essas coisas estão relacionadas a arte. Por isso tenho alguns livros na minha estante que levo anos para ler, ou filmes que enrolo e enrolo até finalmente colocar no topo da minha lista do Netflix. Ainda não chegou o momento certo de assistí-los, ainda não estou pronta para eles. Tudo na vida é uma questão de timming, o aprendizado também.
As vezes você ainda não está pronto para entender em toda a sua amplitude um determinado assunto ou sentimento. Principalmente o sentimento. As vezes você até passa uma vida inteira não entendendo uma determinada decisão que você tomou, ou que sentimentos te dominavam num determinado momento de insanidade. As vezes a gente entende, as vezes não.
Mas a sua experiência de vida vai se acumulando e você acaba aproveitando mais alguns momentos, alguns gostos, algumas travessuras, algumas pesssoas, alguns livros e alguns filmes. Por que você entende tudo isso com mais profundidade. Aconteceu recentemente comigo quando assisti ao filme "The Curious Case of Benjamin Button" e acabei procurando o roteiro pra ler. Fiquei impressionada como me conectei com o filme, com a maneira como o roteiro foi escrito, todas as metáforas, o que cada personagem representa de fato.
A linda poesia do amor de Benjamin e Daisy. Ela nasce jovem e ele velho. A cada dia que passa ele rejuvenesce e ela vive o curso natural da vida. Os dois vivem muitos encontros e desencontros por causa disso e um tanto número de rejeições até finalmente conseguirem ficar juntos, até se concretizar o grande encontro mágico no meio do caminho da vida dos dois. No meio do caminho. Enquanto Benjamin continuava ficando cada dia mais jovem e Daisy cada dia mais velha.
É claro que a separação dos dois é iminente na história. O amor não foi feito para eles e não há nada a se fazer quando a vida decidiu não te dar uma chance. Para eles sempre foi tarde demais. A separação vai ficando cada dia mais paupável para Benjamin quando ele e Daisy acabam tendo uma filha juntos, uma menina, Caroline. Ele está ficando cada dia mais jovem e uma hora ele vai virar um bebê novamente e Daisy não pode cuidar de duas crianças ao mesmo tempo. Então Benjamin decide ir embora, para dar uma chance a Daisy de encontrar um homem que fosse capaz de dar para ambas a família que ele nunca seria capaz. Quem sabe assim ela ainda tivesse uma chance de ser feliz.
Entre tantas cenas cheias de poesia uma em especial me emocionou demais ao ler as páginas do roteiro e eu resolvi transcrevê-la aqui. A última carta que Benjamin deixou para a sua filha Caroline e que depois dela não se soube mais do paradeiro dele. Talvez quem sabe pensando nos próprios erros que ele cometeu, nas próprias decisões que ele faria de novo se tivesse mais tempo.

252A. AROUND THE WORLD
And Benjamin's voice comes in... WHILE WE SEE HIM IN VARIOUS PLACES ALL OVER THE WORLD, A MONTAGE, A FILM WITHIN THE FILM, OF THE ROAD HE'S TAKEN...
benjamin button's (V.O.)
"... what I think is, it's never too late...
or, in my case, too early, to be whom you want to be...
There's no time limit, start anytime you want...
change or stay the same... there aren't any rules...
we can make the best or worst of it... I hope you make the best...
I hope you see things that startle you.
Feel things you never felt before.
I hope you meet people who have a different point of view.
I hope you challenge yourself.
I hope you stumble, and pick yourself up.
I hope you live the life you wanted to...
and if you haven't I hope you start all over again..."
---
No começo do filme Daisy, no seu leito de morte, conta para a filha Caroline a história do melhor relojoeiro de todo o mundo, que perdeu o único filho prematuramente. Ele foi contratado para construir um relógio em uma linda estação de trem na cidade. O relojoeiro passou anos e anos da sua vida construindo o "mais lindo relógio em todo o mundo". Todas as pessoas da cidade foram ver o dia em que o relógio seria ligado na estação pela primeira vez. O relojoeiro estava lá, e quando ligaram o relógio ele começou a girar ao contrário.
Todos ficaram chocados com a falha do artista do tempo, como um relojoeiro de tanto renome poderia cometer um erro assim? E então ele revelou: Eu construí esse relógio com a esperança de que ele trouxesse de volta todo o tempo perdido, e então assim tantos jovens que perderam a sua vida prematuramente pudessem voltar pra casa para serem felizes, para se apaixonarem, para viverem suas vidas.
Quem sabe o relógio, ao girar ao contrário, consiga voltar no tempo e assim todos aqueles que foram privados de viver, possam ter uma segunda chance.
Nunca mais se soube do relojoeiro depois da inauguração do relógio. Mas a sua obra permaneceu pendurada na estação de trem, contando o tempo ao contrário a cada dia, em nome daqueles que tiveram o seu tempo perdido.
Eu realmente espero que a gente esteja vivendo a vida que escolheu e se não a queremos mais, espero que a gente tenha forças pra começar de novo, mesmo que seja do começo, mesmo que seja "tarde demais", mesmo que seja incerto, mas se for verdadeiro, deixe ser, e que a gente se deixe viver.

sábado, outubro 17, 2009

Onde Vivem os Monstros


"Você sabia que um dia o Sol vai morrer?" E que um dia tudo vai acabar? O mundo, os humanos e o universo?

Você sabia que existe um monstro dentro de você? Um não, muitos. E cada um traz em si uma emoção, uma impulsividade, uma criança, um medo, um sorriso, um sonho, uma raiva, uma lembrança.

São selvagens esses monstros. Eles não agem de acordo com um código moral, ou de leis, nem respeitam uma escala hierárquica.

Eles são feitos de sentimentos. Sentimentos selvagens, puros e indomáveis. E o que eles não gostam ou receiam, eles comem.

Mas um dia eles se perdem, ficam solitários demais. Eles se confundem dentro de tantas perguntas.

Então eles decidem que precisam de um rei. Um rei que promete salvá-los da perdição e da solidão.

O rei tenta dominar todos esses selvagens. Ele tenta convencê-los dos seus poderes sobrenaturais, promete curar todas as suas dores!

Os selvagens, por serem puro sentimento, acreditam no seu rei. E tudo fica bem por um tempo.

E então o mundo onde as coisas selvagens vivem se torna, por um instante, um lugar onde tudo que eles desejam pode de fato existir. Onde os sonhos se realizam, onde a completude existe, onde ninguém dorme sozinho ou com medo.

Mas um dia as coisas mudam... E as coisas selvagens descobrem que o rei é só mais um como eles, mais um comum entre tantos. Um simples Max, o rei de todas as coisas selvagens cheio dos mesmos medos, das mesmas angústias e das mesmas perguntas.

Um menino que foi pra cama brigado com a mãe e sem jantar, que resolveu se aventurar em uma viagem fantástica longe de casa, dentro da sua própria imaginação. "As vezes somos a única família de alguém, e ser família não é nada fácil".

E diante dessa revelação os monstros ficam ainda mais confusos. Perdoar é difícil até pra selvagens tão puros como eles.

É assim que o rei percebe que a sua aventura fora longe demais. Ele conheceu um mundo novo cheio de novas paisagens e experiências. Conheceu os selvagens, tentou compreendê-los e, em vão, dominá-los. E então chega a hora de mudar tudo novamente. Chega a hora de querer estar em outro lugar.

"And Max, the king of all wild things was lonely and wanted to be where someone loved him best of all". Chegou a hora de dizer adeus aos selvagens, chegou a hora de voltar para casa...

"I need a story, could you tell me one?" Once upon a time there was a boy who wore his wolf suit and made mischief of one kind and another. His mother called him "wild thing" and he went to bed without supper. And so he went to a place where only us, the kids, know. So so far.

He sailed off through night and day and almost over a year to the place "where the wild things are".




Filme do dia_"Where the Wild Things are", by Spike Jonze
Música do dia_ "Wake Up" by The Arcade Fire
Frase do dia_"Childhood is measured out by sounds and smells and sights, before the dark hour of reason grows", by John Betjeman

segunda-feira, outubro 12, 2009

Generation Converse

We are the generation converse. We are the daydreamers.

The ones by the corners of the big cities singing, playing, telling the stories of the today and painting the tomorrow.

We are the ones jumping in the dark hole hoping it is not that deep. With our eyes closed and our arms open. The ones that try, the ones that fail and then try again another way. The ones that experiment.

We do our tests and invent our possibilities in a world that was never ready for us. We are anxious, we are angry, we live in the edge of the right and wrong.

We are the ones with the crazy hairs and the endless hearts. The ones that listen, the ones that scream, the ones that can, and the ones that did.

The ones that will never grow old.

We are the generation converse. We were born in a big world under collapse and no one told us it will be alright, but we believe it will. Because we dream of changing things.

We are writing a new tomorrow for ourselves and for the next generations to come. But we are not that sure if anyone will ever read it.

We are the generation converse. I’m pretty sure you heard of us. Maybe even saw one of us, inside our solitude in a train with our eyes sparkling out of pain or joy. We are the ones on all the streets around the world dreaming life to the fullest. Every day, all the time.

We are the generation converse. They told us we can’t dream the impossible. But we do.

Feliz dia das crianças! Feliz dia geração converse!