segunda-feira, abril 25, 2011

Hoje

Não quero saber das ações, das pessoas, dos sentimentos.
Não quero falar das razões, dos motivos, dos outros.
Não quero saber o que aconteceu no mundo, não quero aprender uma expressão nova, não quero terminar o meu livro.
Hoje não quero saber de nada, nem entender os mistérios do universo.

Há dias em que me preocupo demais, me descabelo, saio de mim. Há dias em que não há razão de nada além da razão de ser quem se deve ser. Há dias que vivemos e outros que vivemos muito pouco.

Mas hoje não. Hoje não quero saber das flores e das desgraças.
Não quero explicar o meu descontentamento com o mundo.
Não quero saber do seu descontentamento com o mundo.

Quero estar "só" no sentido espiritual da palavra. Quero aliviar a alma do peso de existir para o mundo e para os outros. Quero simplesmente existir e ponto, como existem as coisas que não servem para nada. Hoje queria não servir para nada e estar bem assim.

Queria arrancar esse peso de dentro de mim. Hoje quero arrancar esse band-aid velho que esconde um machucado que ainda está aberto e sangrando.

Já vivemos de abandono e de sobras. Vivemos nos espaços disponíveis do mundo, nas oportunidades possíveis do destino, na vida que a vida lhe permite ter. O poder, o controle e o conhecimento são ilusões necessárias que sustentam a vida e que servem para nada. São só ilusões, nós os mágicos, a vida o palco. Mas o roteirista do espetáculo não sabemos quem é...

E eu estou cansada das verdades e das mentiras.

Por isso hoje não quero saber de nada disso. Não quero saber das lições que ainda não aprendi, das coisas que ainda não vivi, da pessoa que eu ainda não sou.

Hoje não quero escutar, nem falar, nem sentir, nem viver.
Hoje eu só quero que o dia termine bem... antes do ato final, antes da cortina cair.