Ela era assim sonhadora. Gostava de passar horas no seu mundo pensando em situações que nunca iriam acontecer. Adorava brincar com a sua mente, com as lembranças, criar histórias pra si mesma.Era muito tímida, porém, pra contar essas histórias por aí. Guardava todas para si, como um pequeno tesouro escondido numa caixinha de jóias no armário.
Mas as vezes lembrando de coisas da vida ela ficava nostálgica.
Pensava em tudo que queria ter dito no passado. As vezes treinava mandar um email para quem um dia partiu o seu coração, desabafando… nunca o fez… As vezes escrevia poemas para outro alguém que nunca os recebeu.
E assim seguia os seus dias, sonhando com coisas que nunca iriam acontecer, lembrando das fotografias dos lugares que passou. As vezes pensava em fazer alguma loucura, de vez em quando soltava algumas palavras infames por aí e só, a vontade de fazer loucura logo passava.
Gostava era de ficar sonhando.
Sonhava em escrever uma canção bonita um dia, quem sabe um filme, ou até um livro. Sonhava em viajar por todo o mundo e morar na Europa, quem sabe sendo Chef do seu próprio restaurante, ou tocando violino, precisava aprender francês...
Sonhava em ser amada de verdade, daqueles amores que duram pra sempre, com despedidas em estações de trem, reencontros surpresas, felizes coincidências e um final emocionante antes de subir os créditos.
Adorava sentir-se útil e anseava por mudar a vida de todos ao seu redor. Assim era ela. Um pouco estranha, um pouco maluca, um pouco feliz e um pouco triste. Feita de metades, cheia de opostos. Uma garota normal.
Porém num desses dias em que o mundo todo parece estar dormindo, ela se sentiu sozinha. Mais do que de costume, mais triste do que "o de sempre". E então ela pensou em todos esses sonhos, em todas as lembranças, nos emails que não mandou, nas palavras que não falou, nos amores que não viveu, nas loucuras que não fez.
Neste dia então ela resolveu escrever. Escrever sobre o que sentia, sobre as coisas que sonhava, sobre as histórias que nunca contou pra ninguém.
Escreveu por horas a fio. Textos, poemas e os emails de desabafo que queria tanto redigir.
Ela agradeceu aquele que confiou nos seus sonhos, pediu desculpas pelo primeiro coração que partiu, cobrou aquele amor que disseram um dia sentir, mas que no fundo ela nunca sentiu.
Claro que ela não mandou nenhum destes emails. Mas neste dia, enfim, uma página em branco foi sua maior confidente, seu melhor espelho e sua perdição. Uma simples página em branco…
E preenchendo essa página em branco com tanto sentimento, ela entendeu a importância do que fazemos na vida de quem cruza o nosso caminho. A diferença de um sorriso, de um gesto diferente, o peso de uma palavra, o quanto dura uma lembrança ou uma promessa.
Essa página em branco era o peso da alma do mundo… Aquela que esquecemos sempre que estamos ocupados demais para sermos humanos.
O que há dentro de cada uma das pessoas que conhecemos e estamos ignorando?
E então ela chorou... E a página em branco cumpriu a sua missão…
Nada acontece por acaso.
