domingo, fevereiro 10, 2008

Déjà Vu

Ela acordou meio nostálgica. Com um sentimento de quem deixou algo para trás desfeito, não finalizado ou a ser definido.

Esse sentimento persistiu o dia todo: no café da manhã, as oito horas de trabalho, no almoço e até durante o cafezinho das quarto e meia da tarde.

Um gole de café, dois, o terceiro e uma bolacha água e sal. E a nostalgia não passava.

Tentou escutar uma música diferente, que não remetesse ao passado, à infância, balinhas Sete Belo ou ao primeiro beijo durante o trailer no cinema. Nada. O sentimento persistia.

Tinha a sensação de que cada linha que vivemos da nossa biografia é sempre a mesma, mas escrita de uma maneira diferente. Como se palavras, sentimentos e acontecimentos não se repetissem somente ao longo dos dias, mas também dos anos, das décadas, quem sabe de uma vida inteira.

Alguns chamam isso de rotina. Ela chamava de destino individual.

Procuramos consertar algo que não vai bem, persistimos, depois deixamos de lado no instante em que a esperança prepara as malas e vai embora.

Aí que mora a grande sacada da vida, pois um dia vive-se o mesmo novamente, mas com outras palavras. Caminhamos sempre para o mesmo destino, para o lugar comum revisitado. Mudam-se os nomes, as ruas, os dias e no fim tudo permanence igual, respeitando assim o karma do destino individual.

Talvez por isso ela acordava todos os dias mais e mais nostálgica. Por que ao passar de cada dia ela percebia o passado sendo vivido novamente, nas cores de uma nova experiência.

Que grande ironia. Chamamos o novo dia de “novo” enquanto vivemos o “déjà vu” bem disfarçado do destino. Sem saber, revivemos.

O café esfriou... E ela continuava sentada tentando entender essa brincadeira sem graça da vida, e o sentimento de nostalgia que ainda persistia e que a perseguiu por todo o dia: no café da manhã, as oito horas de trabalho, no almoço e até durante o cafezinho das quatro e meia da tarde.

Se “recordar é viver”, que nome se dá para o “viver de novo” por uma vida inteira?

O que estou escutando?_ Score de "O Amor nos Tempos do Cólera" by Antonio Pinto
Por que?_ "Tem o peso da alma do mundo. E ela não pesa mais do que a mão de uma criança"...

Que frase estou pensando?_ "Temos a arte, para que a verdade não nos destrua" by Charles Chaplin
Se fosse um filme, qual seria?_"A Vida dos Outros" by Florian Henckel von Donnersmarck

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