quarta-feira, dezembro 22, 2004

Behind the Scenes - Uma Reconstituição

Sei que todos vocês adoram essas fofocas do showbiss!! Eu também. E como agora sou uma bailarina de flamenco profissional vou compartilhar com vocês como funciona o esquema dos bastidores de um grande espetáculo.
Tudo começa com você, nervosa, se encontrando com suas amigas mais nervosas do que você, no teatro, umas 5 horas antes do espetáculo começar. Lógico que lá você encontra toda a patota da sua turma, já no camarim, aguardando a chegada umas das outras contendo, cada uma à sua maneira, suas sindromes do pânico. Um oi rápido e mamis, mana e eu começamos a acomodar nossos rebocos e roupas de batatinhas.

No Camarim
Esqueçam aquele glamour sobre os camarins, na vida real eles fedem!! E olha que o nosso era um super luxo com banheiro! Enfim, depois que toda a patota está a postos começa a arrumação do cafofo e a descoberta de alguns segredos pessoais como: mania de organização (TOC), táticas sexuais de sedução e posições preferidas. Mamis tira da bolsa uma garrafinha de uísque e felizes com o abastecimento do local começamos nossa peregrinação pelo backstage para desvendar segredos ocultos e antigos.

O fantásma da ópera
Muito diferente do que se imagina teatros não são repletos de fantasmas de atores falecidos mas de pessoas em estados extremos de stress, prontos para arrancar a socos a cabeça do primeiro aspirante a Indiana Jones que aparecer pela frente. Ao nos depararmos com essa situação e escutarmos a maior média de insultos por minuto de nossas vidas somadas, resolvemos voltar para o cafofo fedorento e tomar uma.

Na concentração
Nada nesse mundo pode ser mais torturante do que ficar trancada num camarim por horas intermináveis antes de uma estréia. Então depois de uns goles no uísque da mamis, resolvemos começar o reboco.
Escova o dente, passa corretivo, pancaque (??), pó, sombra escura aqui, sombra branca ali, uma aumenta os peitos, outra diminui o nariz, uma empresta da outra, rola o troca troca de material, colocamos a roupa, rodízio no espelho... UFA, 2 horas se passam sem ninguém notar e estamos há alguns minutos de começar o grande momento, lindas, rebocadas e fantasiadas de batatinha...

Mais espalhas, pra não desacostumar...
Lógico que antes de tudo começar vamos dar uma voltinha para exibir todo o nosso sex appeal por aí e tb ver nossos pais, mães, irmãos, amigos, namorados e papagaios no saguão... Mais esporro e novamente resolvemos voltar para o camarim. Alguém diz "vai lá no camarim X que tem vinho". Eu penso "hahah no meu tem uísque loser". Resolvo compartilhar e digo "passa lá no meu. Mas antes de entrar fala a senha: uísque!".

O momento que todos esperávamos
Ok. Vamos pular para o que interessa que vai do momento em que vamos para a cochia ao momento que retornamos para a mesma, passando, nesse meio tempo, pelo palco.
Ir para a cochia parece o caminho do purgatório. Sua vida passa diante dos seus olhos, suas pernas tremem e você simplesmente se depara com problemas de perda de memória recente, que vai do dia em que você começou suas aulas de flamenco ao último dia do ensaio geral.
Mas nada como exercícios respiratórios para você se acalmar e perceber que TEM UM BAIXISTA SENTADO NO MEIO DO PALCO NO CAMINHO QUE VC TEM QUE ATRAVESSAR, O QUE A PORRA ESTÁ FAZENDO LÁ??!
Tensão. Você rapidamente se acalma e pensa "claro, tenho que entrar na outra cochia". Você dirige-se para a outra cochia e vê que, para sua felicidade, TEM UMA PORRA DE UMA CAIXA DE SOM NAQUELA BICA TAMBÉM!!
Vc sente toda a gama de emoções de uma vida e calmamente pensa "vou olhar para a minha companheira de coreografia, ela vai saber me indicar o caminho". Sua companheira de coreografia está do outro lado do palco olhando pra vc com um olhar de "DEUS, FUDEU, VAMOS SAIR CORRENDO DAQUI, CADÊ A SUA COCHIA CARA?!". Mais tensão, novamente sua vida passa diante de seus olhos e dessa vez você se vê sendo assassinada por sua professora. CLARO!! Sua professora pode ajudar! Você procura por ela e pergunta se, por gentileza, ela poderia lhe dizer qual a sua cochia. Ela diz: NÃO SEI!, e some no buraco negro.
Nesse momento sua companheira de coreografia já se posicionou na cochia dela e olhou pra vc com cara de "se vira, eu vou entrar aqui".
Você resolve enfrentar o cara do baixo e se posiciona por alí mesmo. Seja o que Deus quiser. As luzes se apagam, a galera aplaude a coreografia anterior e eis que UMA LOUCA COMEÇA A CANTAR NO LUGAR DA SUA MÚSICA... Você pensa, "Deus, QUEM É ESSA PUTA??!" E sua companheira mamis, já embriagada pelo uísque do camarim, diz: a cantora enlouqueceu, e resolver ir lá na frente fazer um solo básico.
Você desconsidera a manifestação da bailarina entorpecida e resolve aguardar. Um dia a tia se toca de que entrou na hora errada...
Como tudo uma hora se resolve e quando fudeu fudeu, ela se tocou, sua música começou, você claro entrou na hora errada mas ninguém percebeu, principalmente a sua professora, e você dança feliz e triunfante sem escutar porra nenhuma de tanta emoção.

Depois de minutos intermináveis...
Mas o gostoso é mesmo depois. Sair do palco é quase mais gostoso do que descobrir em quem colocar a culpa! Todo mundo se ama e rola um abraço grupal quase orgiático! Algumas pessoas se descobrem naquele momento e decidem viver dessa vida de artista!!
Aí vem a parte chata em que você, sem ter mais o que fazer, fica rodando pelo backstage levando espalhas, causando buxixos e tomando sustos com silêncios repentinos vindos da sala de espetáculo. Algumas das colegas têm que ser delicadamente trancadas no banheiro para não invadirem o palco, assim como a cantora louca, e fazerem um solo do além. Mas no final todo mundo fica feliz...
Para finalizar esse conto gigantesco faço minhas as palavras da Alê, uma das meninas da nossa patota: "Sabe, gostei disso.... Dessa vida de artista..."

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